Como se Aprende em Contexto de Prática Clínica

COMO SE APRENDE EM CONTEXTO DE PRÁTICA CLÍNICA

Muito se pode dizer acerca da forma como se aprende em contexto de prática clínica, são múltiplos e complexos os factores que intervêm neste processo de aprendizagem com a prática. Aprender fazendo, experenciando é de facto para muitos autores a melhor forma de garantir que os conhecimentos adquiridos em sala são consolidados e de facto verdadeiramente apreendidos uma vez que se confrontou o saber teórico com o saber fazer.

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A este respeito Wilson Abreu referindo-se a Massarweh (1999), refere-se ao contexto clínico como uma sala de aula clínica ; Kushnir e Windsor referem a importância da ansiedade como condicionante da aprendizagem; Hart e Rotem que identificaram seis factores que influenciam decididamente a aprendizagem neste contexto.

A este respeito Schon (1993) entende que o campo da prática será o espaço de desenvolvimento de competências técnica e não técnicas num ambiente de tensões entre a racionalidade prática e a técnica. O aluno de enfermagem ou enfermeiro recém-formado em integração, aprende pelo conhecimento que lhes é transmitido pelo professor, pelo tutor e pelos seus pares. Mas esse mesmo indivíduo também aprende, compreende e organiza o conhecimento através de um trabalho intelectual ou físico ou através da experiência.

A experiência que segundo Élvio Jesus (2006) será um elemento fundamental para a tomada de decisão em enfermagem. Segundo este mesmo autor, na sua tese de doutoramento – Decisão Clínica de Enfermagem – a experiência do enfermeiro será aquilo que este aprendeu através de situações práticas anteriores, isto é a experiência produz conhecimento sendo este conhecimento aplicado nos cuidados subsequentes aos utentes. A experiência permitirá ao enfermeiro desenvolver a capacidade de se centrar no utente, de conhecê-lo e de decidir melhor, em detrimento de uma maior focalização no equipamento ou procedimentos. Ela facilita a que o enfermeiro aprenda a ser confiante, a lidar melhor com as emoções e os sentimentos dos utentes, a colocar-lhes questões mais difíceis, a escutar activamente e a considerar um maior número de intervenções. Ela permite que o enfermeiro seja capaz de prever determinadas situações e que tome atempadamente medidas de prevenção àquela situação que entretanto foi capaz de identificar.

Wilson Abreu desenvolveu o seguinte esquema que mostra todo este processo de aprendizagem com a prática clínica – a aprendizagem em contexto clínico pressupõe sempre uma actividade cognitiva, mediada pelos mais diversos factores (de ordem cultural, situacional, psicológica e mesmo biológica). O processo inicia-se com o surgimento de uma situação nova e consequente redefinição dos objectivos operatórios tendo em linha de conta a motivação, a orientação, a integração e acção. O aluno/enfermeiro aprende quando integra a informação e desenvolve uma acção, num contexto de avaliação e controlo. A supervisão clínica interfere com a aprendizagem na medida vem que disponibiliza orientação e avaliação e favorece os processos pessoais de controlo. Assim a aprendizagem implica mudanças a nível das cognições, práticas socioprofissionais, auto-conhecimento, definição de uma estratégia pessoal de processar a informação e transferibilidade, ou seja os saberes adquiridos num determinado contexto podem ser mobilizados numa situação distinta.

O mesmo autor sublinha a importância da prática na origem de diversos estudos que numa tentativa de dissecar este assunto abordam o conhecimento na acção, reflexão na acção, reflexão sobre a acção e reflexão sobre a reflexão na acção. Estes aspectos são fundamentais numa prática reflexiva, só assim há lugar à produção de conhecimento, de ciência. Só com esta prática reflexiva se pode falar em mudança sustentada. E penso que a enfermagem poderá evoluir nos contextos actuais pela sua afirmação enquanto profissão que usa o conhecimento ao serviço do conhecimento, com uma prática reflexiva estruturada na reflexão na acção, sobre a acção e sobre a reflexão na acção.

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